Entenda a relação entre diabetes e doenças cardíacas
Olá! Como você está?
Se você acompanhou os conteúdos anteriores do Cooperando com o Coração, viu que a diabetes é uma condição de saúde que exige atenção, cuidados e uma compreensão profunda de seus impactos na vida das pessoas.
Hoje vamos seguir com os materiais preparados pelos especialistas do InCor para o programa, e você vai descobrir a relação entre diabetes e doenças cardíacas, assim como práticas que ajudam a controlar a doença. Leia na íntegra:
O diabetes é uma doença crônica caracterizada por apresentar altos níveis de glicose no sangue e acomete mais de 13 milhões de brasileiros. Apesar disso, cerca de 50% dos diabéticos não sabem que tem a doença. Esses indivíduos apresentam frequentemente outras doenças como hipertensão arterial (pressão alta) e dislipidemia (colesterol alto), presentes em mais de 80% dos pacientes. Portadores de diabetes mellitus tipo 2 (DM2) têm, em média, um risco de 2 a 4 vezes maior de desenvolver doença cardiovascular do que indivíduos sem diabetes. Quando presentes, hipertensão arterial, obesidade, glicemia alterada, triglicérides elevado e HDL baixo levam ao diagnóstico de síndrome metabólica, um conjunto de doenças associado a um maior risco de doença cardiovascular. Diabéticos que não apresentam um controle adequado da glicemia, pressão, e colesterol, têm um risco até 48 vezes maior de apresentar infarto agudo do miocárdio.
As doenças cardiovasculares constituem um grupo de doenças que afetam o coração e os vasos sanguíneos e são representados pela doença arterial coronariana (doença das artérias do coração associada ao infarto agudo do miocárdio), acidente vascular cerebral (AVC) e doença arterial periférica (doença dos vasos sanguíneos que pode levar à amputação das pernas). A doença arterial coronariana é a maior causa de morte em adultos com diabetes mellitus e isso ocorre porque altos níveis de açúcar no sangue podem danificar as paredes dos vasos sanguíneos, predispondo ao acúmulo de gordura nos vasos. Consequentemente, há um estreitamento desses vasos e o fluxo sanguíneo fica reduzido, aumentando o risco de obstrução e de infarto.
O diabetes evolui silenciosamente e muitas vezes o paciente só é diagnosticado quando apresenta alguma complicação como lesão no rim, doença cardiovascular, ou lesão na retina, por exemplo. No infarto agudo do miocárdio, a clássica “dor no peito” pode não aparecer e esses pacientes podem apresentar apenas uma dor na mandíbula, um mal-estar generalizado ou qualquer outro sintoma inespecífico. Isso ocorre devido a neuropatia autonômica, uma complicação do diabetes que altera o sistema nervoso simpático e parassimpático, fazendo com que as pessoas sintam menos dor, mascarando o quadro de infarto agudo do miocárdio.
Diabéticos podem reduzir o risco de doenças cardiovasculares com medidas preventivas como manter uma dieta saudável, praticar atividade física, parar de fumar, perder peso, fazer acompanhamento multiprofissional com exames e tratamentos que previnam as complicações da doença. A perda de peso com dieta e prática de atividades físicas ajuda a melhorar o controle glicêmico, previne e ajuda a controlar a hipertensão arterial e dislipidemia, além de melhorar a qualidade de vida dessas pessoas. A redução de 5 a 10% do peso corporal leva a uma melhora metabólica do diabetes, e a redução de 10 a 15% do peso tem um efeito modificador de doença (é capaz de manter níveis normais de glicose no sangue por mais de 3 meses, mesmo sem uso de medicações). Além disso, é preciso que haja uma perda de peso sustentada para evitar que os níveis de glicose voltem a subir. Atividades físicas regulares auxiliam na perda de peso e na prevenção e controle de doenças cardiovasculares. A Associação Americana de Diabetes (ADA) recomenda que crianças e adolescentes com diabetes pratiquem 60min/dia ou mais de atividade aeróbica de intensidade moderada/vigorosa, com atividades de fortalecimento muscular por pelo menos 3 dias/semana. Além disso, nos adultos a recomendação é de pelo menos 150min /semana de atividade física aeróbica de moderada/vigorosa intensidade. A dieta também auxilia no controle glicêmico, na prevenção de doenças cardiovasculares e na perda de peso. É recomendado o consumo de frutas, verduras, legumes, alimentos integrais, carnes magras. Existem gorduras benéficas que podem ser consumidas moderadamente como as monoinsaturadas (azeite de oliva e castanhas por exemplo) e poliinsaturadas (ex. peixes). Por outro lado, devemos evitar o consumo de gorduras trans presentes em alimentos processados e as gorduras saturadas como a banha de porco, salgadinhos, entre outros. Além disso, deve-se evitar a ingesta excessiva de sal (eleva a pressão e o risco de doenças cardiovasculares), álcool (altera níveis de glicemia e eleva o triglicérides), carboidratos e açúcares (pães, sorvetes, refrigerantes, etc). A dieta adequada requer cuidados individualizados, avaliando a qualidade e quantidade dos alimentos, com auxílio do nutricionista.
O tratamento medicamentoso do diabetes com foco na doença cardiovascular envolve principalmente o controle da glicemia, pressão arterial e colesterol. Além das medicações convencionais para tratar o diabetes, podemos utilizar medicações que auxiliam na proteção concomitante com outros órgãos, conforme a necessidade individual. Medicações como os agonistas do receptor GLP1 e inibidores de SGLT2 atuam no controle do diabetes e doenças cardiovasculares. Os inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA) e os bloqueadores do receptor da angiotensina (BRA) reduzem a pressão e conferem proteção para os rins e coração. As estatinas reduzem o colesterol, prevenindo doenças cardiovasculares. As metas de tratamento, em geral, têm o objetivo de atingir uma hemoglobina glicada <7%, glicose em jejum e antes das refeições: 80-130mg/dL, glicose 2 horas após refeições<180mg/dL. Além disso, devemos manter a pressão arterial abaixo de 130x80mmHg. O alvo de LDL depende do risco cardiovascular do paciente, indivíduos com infarto ou AVC prévios (muito alto risco) devem manter um LDL <50mg/dL, diabéticos com lesão de órgão alvo como retina e rins ou que tenham algum outro fator de risco (alto risco) devem manter LDL<70mg/dL, e diabéticos sem nenhuma outra doença (risco baixo/intermediário) devem manter LDL<100mg/dL. É importante ressaltar que o tratamento deve ser individualizado conforme avaliação médica.
Referências:
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